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Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2016

Deixa arder que o meu pai era bombeiro

Estamos no Verão na época dos fogos, dos que consomem as matas e mesmo casas. Não dos de artificio, nem dos que constituem uma agregado a viver numa casa, nem tão pouco dos "fogos que ardem sem se ver". O Manuel tem uma ou duas matas de pinheiros na aldeia, mas está emigrado na Suíça e nem sabe quando e se voltará uma dia para tratar delas. O Joaquim, foi em novo para a guerra colonial. Voltou e ficou pela PSP na capital. Os prédios (vinhas, olivais e matas), passa por elas no dia de festa da aldeia. Estavam entregues a um irmão, que, por sua vez, tirou um curso de ótica e foi trabalhar para o Algarve. Os seus "prédios" e os do irmão que se amanhem sozinhos, por que não há quem lhes pegue. O Álvaro, depois de fazer a tropa nos comandos, vem e vai para a apanha de frutas e hortícolas na França. Tem também umas courelas e algumas são matas entregues a si próprias. Dá uma lambedela a umas parcelas de vinha, já que gosta do líquido fermentado das...

O Terço

António, de alcunha o Gato, devido aos seus olhos azuis, para além da obrigação de zelar pelo granjeio das vinhas e olivais espalhados pela freguesia, adorava o seu violino e a caça. Não morria de amores pelas tabernas nem por futebóis . Religioso, ia à missa aos domingos e dias santos, abstinha-se de carne na semana santa, mesmo pagando a bula e rezava o terço à noite, com a mulher e seus quatro filhos, ainda rapazes. A oração do terço era cantarolada alternadamente pelo pai e restantes membros da família, num dialogo quase musical, repetitivo e transmitido de pais para filhos. Naqueles momentos passava-se do rebuliço do dia à calma, da traquinice ao sossego, tornando-se um momento de comunhão e ao mesmo tempo de entrada na escuridão, atenuada pela luz trémula duma candeia de azeite. Por isso, o trautear do terço convidava, logo de início, a um deixar-se levar nos braços da noite. Resistir-lhe era quase impossível. Assim, a maioria das vezes, lutar contra o sono era uma guerr...

Presença e Ausência

Sr. Presença : Então como vai sr. Ausência? Alguma novidade lá do seu bairro chique do palácio de S. Vento? Parece que aquilo não está famoso lá para aquelas bandas... Têm muito tempo para pensar em como nos hão-de tramar e ir ao nosso bolso. Olhe que ainda ontem disseram na televisão que agora já vamos pagar para pôr a roupa a secar ao Sol e ao Vento. Assim, quem tem vento e sol paga mais para a Cambra. Sr. Ausência : A mim, tanto me faz, mando lavar e secar a roupa na Ziman. Sr. Presença : Mas sr. Ausência, por acaso já se apercebeu que apanhando sol e vento tem de pagar na mesma. Eles querem la saber onde lava e seca a roupa. Mesmo no inverno e em dias nublados, tem de pagar. Não são eles que fazem as estações do ano, nem o tempo de sol e vento... Eles tiram o cavalinho da chuva... E não lhe vale de nada tapar as janelas, eles calculam o sol e o vento nas paredes, marquises ou quintais das casas. Mas há mais; aquela senhora do último andar, que tem aquelas varandas enorme...

Maldita Enxada

Feita a escola primária, os irmãos Jeremias e Alberto trabalhavam no campo, podando, escavando e redrando com a enxada, acartando uvas em cestos vindimos, varejando, colhendo a azeitona. Enfim, um ciclo de tarefas exigidos pelos vinhedos, olivais e matas circundantes à pequena aldeia onde foram criados. Ciclo esse, regulado pelas estações do ano e o saber acumulado pela experiência e transmitido de pais para filhos. Jeremias e Alberto trabalhavam para um reduzido número de proprietários, já que de seu apenas tinham a casa modestamente mobilada de que as enxadas faziam parte. Pelo seus vinte e poucos anos, andavam a rotear com mais alguns homens para os lados das Antas. Aos pares, um com um ferro afiado aluía a terra e o outro com enxada ou pá virava a terra solta de modo criar uma vala de um metro de profundidade, tapando a vala anteriormente aberta, de modo a trazer à superfície a terra nova e mais produtiva e remetendo para a profundidade a já cansada. O dia de trabalho estav...

Heróis

Sr R. Ó Joaquim, pensando um pouco, talvez tenhas um ou outro amigo que seja um herói, como aqueles dos filmes americanos, que vão matando neles até ficarem sem balas e depois, como quem não quer a coisa, afastam-se para o deserto, ao pôr do sol, para um lugar desconhecido... Sr J. Ó Raul, nem por isso. Eu admiro mais heróis do tipo do Napoleão, Churchill ou mesmo o Estaline ou o Bush. Isso é que são heróis. Não sei porquê, mas acho este tipos mais carismáticos. Esses de que tu falas, só me lembram estes agora que desatam aos tiros ou a rebentar bombas no meio das pessoas...Estes, parece que não mataram ninguém... Mandaram muita gente para o galheiro, mas eles não sujaram as mãos, creio eu. Sr R. Não fales assim, Joaquim. Matar diretamente ou mandar outros fazê-lo é a mesma coisa ou ainda pior... Vejo aí uma certa cobardia... Talvez os reis que estudaste na primária, sejam mais importantes que esses... Ao menos iam para o campo de batalha e, às vezes, morriam lá, como o D. Seb...