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Semnome

De manhã cedo, pai e mãe saem para o trabalho deixando em casa os seus dois filhos. O mais novo alimentado a biberão; o mais velhinho já roendo côdeas de pão e bebendo malgas de caldo. Nasceram na década de sessenta, no meio de um turbilhão de privações. O sustento das famílias mais pobres fazia-se com muito trabalho e magras refeições. A entreajuda frente à adversidade era mais forte que nunca, mas a fome apertava e o pouco que havia, tinha de ser meticulosamente repartido. O Laurido depois da sua malga de caldo, dava o biberão ao irmão, conforme os avisos da sua mãe. Porém, entre os avisos maternos e os avisos da sua barriga, acabava por ceder à tentação e, além da sua ração, ia surripiando porções do biberão do seu irmão. A sua consciência foi acomodando o seu incipiente sentimento de culpa. As desconfianças da sua mãe, que via o seu mais recente rebento sem medrar e definhar, gradualmente acabaram por descobrir o que estava a suceder. As repreensões foram implacáveis e a verg...

Max

"Quem está a tentar assaltar-me o apartamento?" Gritou o Max do interior da caixa de papelão. Realmente, naquela manhã fria de Novembro, alguém andava ao cartão a fazer pela vida, apanhando o que podia para depois vender. Desconhecia que, naquela grande caixa que servira para aconchegar algum frigorífico, era agora o apartamento de Max. A reciclagem da caixa já estava feita e o reciclador teve de avançar para novas oportunidades. Pois, no apartamento de papelão, sem rua nem número de polícia, arrumado a uma parede lateral ao edifício dos correios, estava ele, dormindo momentos de sono dos justos; a destilação dos copitos da véspera já estava realizada. Neste dia, acordara com a tentativa inoportuna e travada a tempo do assalto ao seu apartamento. Max era afável, a seu modo. Falar rouco, discutia com quem se aproximava. Cumprimentava em tom áspero quem lhe lançava olhares reprovadores ou de compaixão. Afugentava irado quem não compreendia o seu estilo peculiar e a su...