De manhã cedo, pai e mãe saem para o trabalho deixando em casa os seus dois filhos. O mais novo alimentado a biberão; o mais velhinho já roendo côdeas de pão e bebendo malgas de caldo. Nasceram na década de sessenta, no meio de um turbilhão de privações. O sustento das famílias mais pobres fazia-se com muito trabalho e magras refeições. A entreajuda frente à adversidade era mais forte que nunca, mas a fome apertava e o pouco que havia, tinha de ser meticulosamente repartido. O Laurido depois da sua malga de caldo, dava o biberão ao irmão, conforme os avisos da sua mãe. Porém, entre os avisos maternos e os avisos da sua barriga, acabava por ceder à tentação e, além da sua ração, ia surripiando porções do biberão do seu irmão. A sua consciência foi acomodando o seu incipiente sentimento de culpa. As desconfianças da sua mãe, que via o seu mais recente rebento sem medrar e definhar, gradualmente acabaram por descobrir o que estava a suceder. As repreensões foram implacáveis e a verg...
..Sem grandes pretensões e descuidado quanto baste.