Há milénios que a terra, o planeta, está girar num eixo imaginário, rodopiando à volta de uma estrela como uma traça gigante encantada com a luz. Mas nas suas entranhas há um fogo a arder e, como tudo o que arde acaba por se consumir, também ela se irá encolher, rodopiar mais depressa e talvez agonizar sozinha no seu leito universal. E nós, tristes mortais nesta barca redonda, damos por garantida esta relojoaria, com corpos rodopiando, dançando e compartilhando luz, tempo e espaço. Ouvem-se uns ruídos estranhos. Algures no seu eixo imaginário as engrenagens começam a dar sinais de fadiga. O óleo sujo espalha-se pelas peças ressequidas. O fumo escurecido vai-se espalhando e abraçando os seus continentes e mares. Os habitantes, distraídos rodopiam de casa em casa, de toca em toca, de rua para rua, de um lugar para lugar nenhum. O relojoeiro sem espanto, observa e abana a cabeça. Lentamente o planeta abranda. Os dias e noites alongam-se. As estações diluem-se. O relojoeiro desani...
..Sem grandes pretensões e descuidado quanto baste.