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É o fim do mundo?

Que o mundo terá fim, ou seja, que ele sofrerá alterações profundas que irão varrer a espécie humana da face da terra, não é novidade para nós. Faltará saber como e quando. Seremos banidos do planeta lentamente ou sem tempo para pestanejar? Haverá uma lenta agonia ou nem daremos por nada? Será numa sexta feira 13 ou ao longo dum taciturno mês de Maio? Chovia e trovejava se Deus a dava. "Mãe, isto é o fim do mundo?" tremelicava o Zezinho agarrado ao xaile da mãe. Esta protegia o seu novo rebento que transportava ao colo enquanto o Zezinho tentava a todo o custo acompanhar o seu passo rápido, a caminho de casa, fugindo à trovoada implacável e  destemperada que se abatera repentinamente sobre a aldeia indefesa. Zezinho estava avisado que viria o fim do mundo com tempestades e trovões do outro mundo e aqueles pareciam mesmo os que guardava na sua fantasia. No meio do passo apressado, do barulho dos trovões do vento e da chuva, Zezinho recebe a resposta tranquilizadora da s...

Vampiros

Num recanto do largo corredor que liga a cozinha ao armazém, em frente aos dois largares onde se recolhe temporariamente a azeitona e se pisam as uvas nos seus devidos tempos, está a família reunida a almoçar umas batatas e bacalhau. A mesa, de duas largas e espessas tábuas de castanho, acompanhada de dois singelos bancos corridos. A um canto junto à porta, enxadas e outros apetrechos agrícolas pendurados em travessas agarradas às paredes. Numa copeira cavada na parede de pedra variada zelosamente acamadas, está o transístor, um sinal de modernidade intrigante que debita música, notícias, reclames e folhetins. O almoço decorria inquieto, com ordens e ameaças dos pais para os filhos mais pequenos que entremeavam a comida com irrequietudes. A irrequietude do Miguel ultrapassou a paciência do seu pai Justo. No meio da troca acesa de palavras e gestos desentendidos e agrestes, o Miguel chora e faz birra afastando-se da mesa e batendo o pé à comida. O transístor atento ao sucedido com...

À Mesa

O ambiente estava ligeiramente mais agitado que o costume. Mais gente, mais pedidos, mais reclamações, mais demoras, mais empregados em aceleração e desorientação. Era impossível não ouvir o bater dos talheres, dos pratos e dos copos, os risos, as impaciências, os suspiros, os murmúrios, os gritos esganiçados de crianças, as reclamações em surdina e um zoar contínuo da amalgama de sons de um restaurante qualquer. Um casal de jovens de fraca e delgada estatura, sentados frente a frente numa mesa. Depreendia-se que ela desfiava insinuações de infidelidade e pedidos de renovação de confiança, enquanto ele sobrepunha a sua inocência e gesticulava a impaciência de ser incompreendido.  Noutra mesa, uma mãe acompanhada de duas irmãs e seu filho de tenra idade. As tias tentavam refrear e alimentar a criança, ao mesmo tempo que se iam misturando olhares e frases condescendentes com garfadas de massa e chop suey. A criança, ora sentada na cadeira, ora rodando pelos colos delas, o...

Relógio omega

O pai com a sua arma de caça na mão direita seguia à frente do seu filho mais velho. Algures ali perto, no seu trabalho de cão de caça, seguia ziguezagueando o irrequieto Nestlé. Palmilhavam aqueles campos lá para os lados do "regato", terras assocalcadas de oliveiras e um pobre regadio, suportado por uma não menos pobre nascente de água, armazenada num tanque de pedra granítica. Nele vivia uma larga comunidade de salamandras pretas de pintas amarelas. No regadio medravam a custo, cebolas, feijão, tomate e o que Deus dava. Mas nesse dia, pai e filho passaram pelo local como cão por vinha vindimada, porque as prioridades eram outras... Ao passar por uma estreita passagem no muro que delimita o seu terreno com a vinha do vizinho, eis que o filho fica de olhos esbugalhados não querendo acreditar no que via. No chão, em cima de um pequeno tufo de ervas ele ali estava, o relógio de bolso ómega, agarrado a uma pequena corrente de prata. Aquele relógio, que fazia as delícias dos...