Ao pensar em heróis, vêem à memória um conjunto de pessoas que pensaram e ou realizaram obras que os destacaram dos restantes contemporâneos. A história encarrega-se de registar os vencedores e alguns vencidos, os descobridores, os inventores, os pensadores, os artistas e por aí fora.
Mas a história não lembrará o Sr. Carriço que, dias e dias com pouco descanso, se levantava ainda de noite para, com a sua enxada às costas, percorrer algumas encostas, chegar ao despontar do sol à propriedade do patrão. Juntamente com outros "carriços" escavou e redrou, bardo a bardo, socalco a socalco, ano após ano, as vinhas da quinta senhorial, alimentado a caldo e sardinha, pão e algum vinho. Com o pouco dinheiro que recebia, sustentou a sua mulher e criou os três filhos. Conseguiu ainda comprar a custo e já no fim de vida, com ajuda dum empréstimo honrado de um amigo, uma pequena parcela de vinha que cuidou zelosamente e legou aos seus descendentes.
A história não lembrará a Sra. Clara Mouca que, décadas a fio, para além das suas lides domésticas e trabalho no campo, era chamada a qualquer hora pelos familiares das parturientes e, durante décadas a fio, foi a parteira de serviço de centenas de mulheres da sua aldeia. Não consta no seu currículo qualquer instrução, mas a sua destreza, dedicação e experiência trouxeram ao mundo do ventre de suas mães várias gerações de robustas crianças.
A história não os lembrará, mas pela suas singelas maneiras de viver e a sua humanidade ainda perduram na mente coletiva da aldeia em que nasceram, viveram e partiram...
Comentários